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sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Dia da consciência negra e o racismo: o que esse blog tem a ver com isso?

Terça-feira desta semana, dia 20 de novembro, como é sabido, foi  comemorado o dia da consciência negra.  Em alguns dos milhares de municípios brasileiros, dia de feriado.  Em Salvador, infelizmente, não.  Neste ano, porém, o governo municipal dessa cidade de todos os santos decretou ponto facultativo.  Já passou da hora, na minha modesta opinião, do governo repensar esta data e, se possível, incluí-la no rol das datas comemorativas.  Temos muitos feriados? Deveríamos, então, abolir do calendário como dia de ócio alguns feriados religiosos, tais como o Dia da Nossa Senhora da Conceição da Praia, comemorado em 08 de dezembro, na minha cidade.  Afinal, somos ou não somos um país laico??

Esse preâmbulo todo me serviu, apenas, para contextualizar o ponto nevrálgico que queria abordar por aqui.  Me emocionei bastante escutando algumas discussões na rádio sobre o tema, vendo que a população negra da cidade, principalmente os blocos afros, estavam, como de praxe, organizando manifestações, colocando a temática racial na ordem do dia.  Ver em blogs, bem como em outros sites da internet que escolas diversas no país aproveitam o dia para colocar em pauta a questão racial, abordando a auto-estima das crianças negras, e tentando resgatar um pouco da sua identidade muito me alegrou.  Mas, é fato, estamos muito distantes de vivermos em uma sociedade sem preconceito.  

Salvador, especificamente, enquanto cidade mais negra do Brasil, fica longe de ser uma cidade igualitária.  Temos 3/4 de negros nesta cidade, e eles estão em toda parte.  Nas ruas, nos pontos de ônibus, nos shows, nos shoppings, nos espaços públicos coletivos.  Entretanto, no prédio que moro, nos lugares que frequento, nas escolas de meus filhos quase que não existem negros.  E, quando lá está um representante desta raça, o fato é tão raro a ponto de chamar atenção.  E ele, coitado, frequentando os espaços da 'elite', na sua maioria branca, fica isolado, sozinho.  Resultado disso: meus filhos simplesmente não convivem com negros.  É quase como aquela sensação: sei que existem mas não sei aonde estão.  Ou melhor, estão como porteiros do prédio, como empregados domésticos, frentistas no posto de gasolina... triste, não?

Um dos motivos pelo qual escolhi viver no Canadá, talvez o mais importante deles, seja para proporcionar uma vida em uma sociedade justa e igualitária para os pequenos.  Viver em um país no qual o multiculturalismo está presente na cultura nacional, onde se tenha a disciplina cidadania nos currículos escolares, onde o respeito pelo outro é, de fato, uma máxima a ser levada em consideração.  E, com isso, propagar, nos atos diários, de que não importa o fato da pessoa ser branca, preta ou amarela para ser respeitada. Sempre acreditei (e continuo acreditando) que uma educação multicultural é o maior investimento para o futuro do planeta, se quisermos semear sentimentos de tolerância e de paz (e isso não é um discurso de miss universo, viu, gente?)

E, pensando que os preconceituosos são nós, os adultos, e não as crianças, lembrei do comportamento de Théo.  Aos dois anos e meio ingressou na escola.  Como sempre, das 13 crianças de sua sala (que no grupo 3 aumentou para 20), apenas uma era negra.  E era seu melhor amigo.  A amizade dos pequenos era tamanha que ele, simplesmente, me disse que o cabelo de Gabi era diferente do seu, 'umas rodinhas coladas na cabeça', e que ele queria ser assim também.  Depois me disse, ainda, que Gabi era diferente dele.  Tentei entender que diferença era essa. Como assim, pensei. Todas as crianças não são diferentes umas das outras? Porque a diferença notada por ele era apenas com relação ao amiguinho? 

Mas não. A diferença que sobressaiu era apenas o tom da pele.  Ele me explicou, no auge dos seus três anos, que Gabi era 'marrom'.  E você? Perguntei.  No que ele olhou para seu braço, pensou um pouco, e disse: sou amarelo. Foi bonitinho ver o desenrolar desta conversa.  Não estávamos falando de raça, mas parecíamos estar falando de uma caixa de lápis de cor.  Nesta lógica, fui classificada como um amarelo mais claro do que o amarelo que era a cor dele.  E assim seguimos.

Aos seis anos, porém, o preconceito começou a bater na nossa porta.  Estávamos em uma fase difícil em casa. Tínhamos nos mudado para a casa de meus pais e, creio eu, Théo estava um pouco revoltado de ter perdido o condomínio que vivia, bem como os amigos.  Até que, um dia, ele sobe do playground com a queixa da babá de que ele tinha dito a uma menininha, filha de algum funcionário, que não queria brincar com ela.  E, nessa discussão, como que em tom de ofensa, disse que ela era preta.  SURTEI!!!

Aonde ele tinha aprendido isso? Como assim, usar características raciais como palavrão para ofender o outro?? A bronca foi grande.  O susto, maior ainda. Mas, acima de tudo, fiquei preocupada. GENTÉM, a sociedade que fazemos parte influencia essas crianças mais do que eu era capaz de perceber até então.

Minha abordagem foi no sentido de tentar entender o que estava acontecendo.  Pelo que pesquei da situação, ele simplesmente não sabia ao certo o que estava falando.  Mas sabia, e muito, que o peso do tom  da pele de alguém é grande, e tentou usar isso a seu favor.  Depois de algum tempo, então, me disse que não gostava dela e não queria brincar com ela.  Até que lhe respondi: filho, eu não gosto de todo mundo que eu conheço, você também não tem obrigação de gostar dela.  Mas temos obrigação, isso sim, de tratar a todos com respeito.  E, caso você não goste dela, não é pela cor de sua pele.  E, por isso, não tinha direito de discriminá-la, já que nem cor de pele nem de cabelo são importantes para definir quem cada um é.  Que uma criança poderia ser verde, azul, roxa, e o que é importante é como as pessoas são por dentro.

Após alguma conversa, eu disse, ainda, a ele que a cor da pele dele também era escura (que clareia ou escurece a depender do tempo de exposição ao sol, mas que hoje, talvez, seja definido como cor de jambo).  E que, provavelmente, no Canadá ele será um dos mais pretos da escola, já que a maioria das crianças canadenses são brancas cor de leite, iguais à tia dele. E que, se ninguém quisesse brincar com ele por causa da sua cor de pele (sempre elogiada por nós), eu simplesmente iria ficar muito magoada.  E ele também, já que não teriam tido tempo para conhecê-lo de perto e descobrir que criança maravilhosa que ele era.

Surtiu efeito? Acho que sim.  Ele pediu desculpas à mãe da menina, nunca mais tocou no assunto comigo e, além de tudo, chegou na psicóloga dizendo que no Canadá ele será o mais preto da escola.  Só não sei ao certo se Théo entendeu que não é ele que ficará mais preto, mas que tudo se resume a uma questão do contexto.  Primeira lição da lei da relatividade, pois.

Mas isso tudo me serviu de reflexão do quão difícil é criar seres livres de preconceito em uma sociedade preconceituosa.  Os brancos com os negros, os mulatos com os negros mas, o mais triste de tudo isso, dos negros com os negros.  Comemoro o dia da consciência negra e, ainda que esteja saindo do país, torço para que este dia sirva para todos, e cada um de nós, pensemos no mundo que queremos deixar para essas crianças.  Para todas elas!

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

O CANADÁ, A FESTA DO PIJAMA E O COUNTDOWN

Me dei conta na semana passada que em alguns aspectos aqui em casa já estamos em ritmo de despedida.  Sim.  Infelizmente Théo já está no apagar das luzes do primeiro ano do ensino fundamental e já está se despedindo, aos poucos, de seus colegas.  Infelizmente teremos aulas na sua escola apenas até dia 30 desse mês! Mas, por outro lado, estou comemorando o fato de não sair de casa às 6:50 da manhã para levá-lo para a escola, distante mais de 15 quilômetros de nossa casa.

E, pensando nisso, fizemos uma comemoração no feriado para ele e sua turma, no total de 5 crianças. e Tom, claro, que, aos dois anos, foi o que mais curtiu e passou a semana inteira perguntando por 'Beguel' (Miguel) e Enzo, na expectativa de encontrá-los em casa .  Foi a sua primeira festa do pijama, muito idealizada por ele, muito trabalhosa para a mamãe, e muito curtida por todos.  A criança ficou 'sisentindo' e já me lembrou que teremos pelo menos mais duas, na frequência de uma a cada mês.  Como não consegui postar as fotos, tiradas pelo celular, tentarei fazê-lo depois, com a ajuda dos universitários!

Na televisão, nos outdoors e nas rádios da cidade tudo o que vejo e escuto são sobre as festas de reveillon. A decoração de natal já deu as caras na cidade, a programação do verão já começa a todo vapor e, vendo por este ângulo, a viagem está dobrando a esquina.

Com isso, acho que a ansiedade para o projeto Canadá diminui.  Afinal, janeiro tá logo ali, né?

Mas o maior motivo de estar postando hoje se deve ao fato de estar super emocionada, começando a minha contagem regressiva trabalhística.  Sim, pois daqui há exato um mês, no dia 21 de dezembro, estarei me despedindo do emprego, e dos amigos que fiz por lá.  Na sexta-feira antevéspera de natal.  Enquanto já se fala de confraternização e amigo secreto de fim de ano, penso no significado disso tudo para mim.  E, de fato, começo a sentir uma sensação o tanto quanto dúbia.  Tudo o que mais desejamos é o que mais tememos, não?? O mundo novo que está se desacortinando às nossas frentes significa deixar o antigo para trás.  Cortar raízes, fechar a porta.  Levar o que é realmente relevante e se preparar para a travessia.  E fazer, talvez, como fez Gonzagão, no filme "De Pai para Filho" (super recomendado para os amigos que estão longe, viu? Toca no íntimo das nossas raízes) : ele voltou a Exu, em Pernambuco, para levar o sertão consigo.  Eu, desde já, pretendo levar o Brasil (e Salvador) comigo.  Sem esquecer, jamais, da cultura  brasileira e do português.  Uma preocupação a mais para quem tem filhos pequenos.

Por isso, aos que vão para Alberta, segue a recomendação de dar uma fuçada neste site : www.bcaab.org, da associação de brasileiros local onde, ao que parece, há um genuíno interesse de manter vivas as tradições brasileiras, o ritmo, a culinária e o português.  Para mim conhecê-la e me tornar um membro está entre as prioridades após o landing.   


E por falar em culinária, algumas fotos do chefe de cozinha Michellin, membro da família. Mas uma coisa que iremos sentir falta, o Panela Pintada (curso de culinária para crianças = reeducação alimentar).  Quem quiser, dá uma olhada aqui  


 




beijos em todos


terça-feira, 13 de novembro de 2012

O FIM DE SEMANA EM SÃO PAULO E O VISTO EM MÃOS



Dia 18 do mês passado fomos para São Paulo, em uma viagem inventada nada mais nada menos do que para pegar os vistos nas mãos da Maura, no Consulado.  Todos que já passaram por isso sabem o quanto este momento é emocionante.  Emocionante a tal ponto que precisei de quase um mês para me recuperar do forte impacto, e conseguir descrevê-lo aqui no blog. Para os que estão em processo e ainda nao vivenciaram este momento, vou contar um pouco desta sensação indescritível.  ATENÇÃO: este relato contém emoções fortes.  Peço especial cautela aos cardíacos e safenados, viu?

Tudo se iniciou assim: depois de ter 'inventado' perante o Consulado canadense que estaria em São Paulo na semana do dia 17 de outubro, indagando se poderia passar para pegar os nossos passaportes, e ter recebido como resposta que 'faria o possível para entregar os vistos a partir do dia 16 no período da tarde', corre eu e marido para emitir bilhetes para Sampa.  Não sem antes combinar com meus pais de deixar os meninos com eles, organizar com a babá de dar o suporte no fim de semana de nossa ausência e ligar para irmaozinho para saber se poderia nos hospedar.  Tudo pronto, bilhetes em mãos, e lá fomos nós!!!

Para deixar a viagem com uma carga maior de adrenalina, estava no primeiro dia da miss red.  Isso mesmo! A menstruação chegou e, como a dananda nunca vem sozinha, fiquei com uma baita enxaqueca, enxaqueca essa piorada por uma noite não dormida devido ao sono interrompido do nosso caçula e um vôo que não nos deixava prorrogar a preguiça na cama: 8 da matina (com escala em Porto Seguro.  Socorre!!! Quase que desembarco por lá, gentém!)

Esses vôos baratinhos da Gol me matam! Ficar até 2 horas da tarde sem comer foi ^*_@!  E, como tenho pânico de avião, aterrissar por duas vezes foi um verdadeiro tormento.  Aquela bendita hora de 'coloquem suas poltronas na posição vertical', com dores homéricas na cervical serviram como eventos disparadores de mãos suadas e náuseas.  Comecei a me mexer e a chorar  reclamar.  

Em solo firme, pedi pelamordedeus para irmos direto para a casa de meu irmão.  Afinal, poderiamos pegar os passaportes na sexta-feira, não?  Não, isso não era possível.  Marido tinha reunião de trabalho durante a tarde, de modo que teriamos apenas a sexta pela manhã para fazer isso, e como seguro morreu de velho (e como tinhamos ido lá somente para isso), decidimos seguir viagem.  Dramin no bucho, braguilha da calça aberta, cabeça apoiada no encosto do banco do carro e lá fomos nós..

Para sintetizar a estória, o prédio é enorme, o estacionamento lotado e a fila para se cadastrar para subir ao consulado também... eu fiquei encostada na parede, esperando chegar minha vez.  Até que o funcionário, talvez por minha palidez estampada na cara, agravada pelo remédio misturado com o nervosismo me pergunta: “A sra. tá se sentindo bem?” E, gentilmente me informa: “Tem um ambulatório aqui no edifício, talvez fosse melhor a senhora dar um pulinho lá”.  E, quando penso que terminou, utiliza o interfone para informar a outro funcionário do consulado que estava subindo uma mulher... (me descreve) que não estava se sentindo bem... blábláblá.  Se eu estava nervosa, imagine como fiquei????? Será que era um prenúncio da minha morte? Estava tão mal assim e nem percebi??

GENTÉM. Tinha muita gente chegando e saindo do consulado do Canadá.  Graças a Deus a fila era diferenciada, e para os imigrantes sortudos (no caso, nós), não tinha ninguém na nossa frente.  Mas, como o Canadá é a bola da vez, muitas pessoas pegando o visto de estudante, viu? Fiquei surpresa!!!

A ansiedade de todos estava nos gestos, nas feições do rosto, no roer das mãos.  Quando fui atendida (e muito bem atendida, diga-se de passagem) pela Maura, e ela, após fuçar alguns envelopes que estavam ao alcance das mãos, me pede para aguardar um pouco, sento e entro em parafuso.  Fiquei com as mãos geladas (mais??), suei frio, chorei.  A emoção foi tomando conta de mim. E o medo de ter tido algo errado com nosso processo também.  Foram horas minutos que não passavam nunca.  Achei que não ia sobreviver a esse turbilhão de sentimentos!!!



Mas, resultado: cá estou eu pra contar história.  Deu tudo certo, sai de lá com duas lágrimas discretas nos olhos, muitos papeis em mãos, e a certeza de que a jornada está apenas começando. 

Obrigado a todos por partilhar isso comigo.  Obrigado, marido, por encarar essa nova aventura.  Com você vou até para a lua.  Morar em um país com tal qualidade de vida, então, nem se fala!  Obrigado W., meu irmão, por estar conosco neste momento tão importante (ainda que tenhamos brigado na volta).  Obrigado, amigos de jornada, aos virtuais e aos reais.  Só que está passando por isso sabe o que aquela página preenchida no passaporte significa. É nossa chave para o futuro.

Obrigado, irmãos, por entenderem nossas escolhas.  Obrigado, meus pais, por me darem asas.   

A viagem está apenas começando!!

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Não é que meu visto chegou... mas estamos indo buscar!!!


Yuppi!!! Não, não aconteceu nada de errado com nosso processo.  Cachorro não fez xixi nele, não o jogaram fora, não rasgaram.  Ele estava lá, quietinho, esperando uma mão abençoada para tirá-lo da pilha dos desesperados para declarar, finalmente, a minha alforria!

Não sei porque cargas d'água cada processo leva um tempo diferente.  Não consigo entender como um casal de amigos nossos, que mandaram os exames médicos quase um mês depois da gente, recebeu o passaporte com os vistos há quinze dias.  Simplesmente não tem qualquer explicação.  Segundo eles, isso depende do oficial que está com a sua documentação em mãos, cada um andando em um ritmo diferente.  Não funciona, em suma, como aprendi na educação infantil.  Uma fila.  Os primeiros a chegar serão os primeiros a serem liberados, no esquema do 'quem vai chegando vai ficando atrás, sabe?'

Ainda bem!  Já que eles estariam de viagem de turismo em novembro para o Canadá, a 'urgência' é maior do que a nossa, né?  Deus sabe o que faz!! Então irão aproveitar para fazer logo o landing e resolver toda a burocracia relacionada a essa grande mudança.  E eu, que só iria em janeiro, poderia estar esperando um pouco mais.  Que bom que foi assim.  Tudo tem mesmo o tempo certo de acontecer, mas falar (ou pensar) nisso quando estamos desesperados é tão difícil...

Por isso mesmo, consegui ajuda especializada de um grande amigo e, finalmente, entrei em contato com o consulado canadense.  Disse que estaria em São Paulo durante essa semana e gostaria de passar para pegar meu passaporte.  A resposta? Prontamente me informou que eu poderia ir a partir de terça-feira dessa semana, nos horários pré-determinados.

O que isso significa? Que compramos (marido e eu) passagens para Sampa para quinta-feira e iremos, pessoalmente, recolher os nossos quatro passaportes.  Não me contive de felicidade! Está tudo ok com nossos exames médicos e nossa documentação complementar e, por conta disso, não ficaremos um dia a mais do que o inicialmente imaginado.  Até a passagem para Calgary já foi tirada: 17 DE JANEIRO DE 2013!!  

Agora é contagem regressiva.  90 dias para fazer check up na familia toda, 90 dias para resolver documentações, arrumar a bagagem, se despedir.  Enquanto eu gostaria que fosse amanhã, minha cara metade me faz ver o outro lado da moeda.  São APENAS 90 dias para aproveitarmos intensamente tudo de bom que temos aqui, principalmente a família! E pensar que na sexta-feira estaremos com os nossos lindos passaportes em mãos...

Breve teremos mais notícias, viu? Serão três dias em Sampa, aproveitando para visitar meu irmão e cunhada queridos (e a pequena sobrinha, que até hoje só vi em fotos), tomar uns chopps, comer pastel e ver alguns amigos.

Nos aguardem!!!

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Dia das crianças e o desafio de ser minimalista

Na minha infância dia de ganhar presente era dia especial.  Salvo raríssimas exceções (como uma viagem de meus pais, por exemplo), ansiava pelo natal, aniversário e pelo dia das crianças para escolher o que queria de presente.  E, talvez devido à pouca diferença de idade na minha casa (quatro irmãos, com seis anos separando o mais velho da caçula), o presente de um, muitas vezes, era partilhado entre todos.  Então,  minha memória emocional destas datas é essa:  de um dia especial, de ficar em família, com brinquedos novos, comida especial na mesa, música tocando no toca-fitas (ou no CD), sobremesas.

E então veio essa perspectiva de mudança para o Canadá. E, com o objetivo de tornar nossa bagagem cada dia menor, com apenas o estritamente necessário, passamos a viver com muito  pouco menos.  Roupa, as crianças vestem até não caber mais (ou até manchar ou ficar esgaçada).  Brinquedos... bom, estes sempre foram difíceis de administrar.

Mudamos já vai fazer um ano da nossa casa para dois quartos no apartamento de minha mãe.  E, com isso, reduzimos a lista dos itens estritamente necessários para viver.  Théo, à época com seis anos, triou o que gostaria de levar para a casa da avó, colocando uns itens à 'venda', doando outros tantos.  Fácil, rápido, indolor. Mas, ao longo desses 11 meses, involuntariamente, foi adquirindo outros tantos itens, o suficiente para encher o maleiro e me encher de rugas.  Quarto bagunçado, maleiro lotado.

Passou seu aniversário, comemoramos o aniversário do irmão.  De repente observo esta criança com comportamento de colecionador, pedindo brinquedos repetidos aos membros da família, apenas para ter mais (que ele nunca consegue, pois sempre perde alguns), ou para igualar a sua coleção ao de algum colega de escola.  Quando questionado sobre o presente que gostaria de ganhar, leva longos segundos sem resposta. Para mim, por um motivo óbvio: simplesmente tem mais do que precisa.

E, juntando a mudança para o Canadá que se aproxima com o fato de que os meninos possuem alguns  vários brinquedos ainda na caixa, sem terem sido propriamente explorados, o dia das crianças aqui em casa vai ser consumo zero!  Conversado com o primogênito (e com os avós das crianças), tudo foi devidamente acertado e concordado.

Mais presença e menos presente.  Esse tem sido nosso lema, essa tem sido a plantinha que tento semear nas crianças.  E, qual não é minha alegria ao perceber que basta uma caixa enorme de rolhas de garrafa de vinho para despertar a criatividade de Théo, preenchendo toda a sua tarde de brincadeiras das mais diversas! Me divirto ainda mais quando vejo Tom cobiçando este novo brinquedo do irmão... mais uma prova de que criança não gosta de presente novo, mas de novidades!!!

Por enquanto tem dado certo por aqui.  Mas, quando penso no natal e tento convencê-lo a pedir dólar para Papai Noel de presente, ainda escuto resistência, tanto do pequeno quanto do maridão.  Estou sendo rígida demais??

O que não podemos, é fato, é estimular o comportamento consumista como tenho visto por aí. 
 O que muito me agrada, e estou bastante otimista com relação a isso, é que, ao que parece, o Canadá não é um país em que o consumo é incitado.  Acho que quanto menor a diferença social, menos necessidade as pessoas têm de TER PARA SER.  Porque a cena que eu vi no shopping esta semana, de pessoas correndo desenfreadamente em busca de determinados brinquedos, comprando mais do que as mãos podiam carregar, dividindo em 10 x no cartão de crédito, satisfazendo um desejo insaciável de consumir, muito me entristeceu.  Isso é típico de países pobres, não? De lugares em que, para uma pessoa se sentir respeitada, inserida na sociedade, precisam comprar, ainda que para isso sacrifique boas noites de sono ao aumentar o  seu poder de endividamento.  Ter crédito, na sociedade de consumo, é ser alguém.

E a máxima cartesiana se inverteu.  Compro, logo, sou...

quarta-feira, 10 de outubro de 2012

ELEIÇÕES 2012 E O 'EXERCÍCIO' DA CIDADANIA

Lembro com  uma relativa saudade o tempo das cédulas de papel nas eleições.  A urna, quando eu era criança, exercia em mim uma magia, uma fascinação indescritível.  Tudo isso junto com o fato de que costumava ir com meu pai votar, ajudava a depositar o papelzinho na urna, juntamente com a esperança por um futuro melhor, por mudanças consideravéis no futuro do meu país e da minha cidade.  A crença em um futuro melhor levava todos no dia das eleições às suas zonas eleitorais, ao exercício do dever cívico, ao respeito a este dia tão importante.  

Posteriormente, ainda acompanhava a apuração dos votos.  Não sei quantas vezes eu fiz isso, mas ficou marcado o frio na barriga que sentia, as batidas alteradas no coração e os pulos e aplausos a cada voto computado para o meu (de meu pai) candidato.  Tudo isso no lugar que hoje abriga a maior delicatessen de Salvador (Perini), quando ainda era o meu querido Clube Baiano de Tênis.

E as risadas coletivas em cada voto nulo? Macaco Simão, Chacrinha, Jesus Cristo, etc.  Esse sim, um verdadeiro ato de protesto.  Os votos em branco eram poucos pois, segundo meu pai, depositar uma cédula eleitoral em branco nas urnas era um prato cheio para possíveis fraudes nas eleições.  Em suma, esperei com ansiedade completar 16 anos para também, naquele momento, me sentir de fato uma cidadã, uma pessoa  suficientemente responsável para escolher seus diligentes.  

Isso tudo apenas para mencionar o quanto que me sinto triste com a verdadeira palhaçada que as eleições se transformaram atualmente.  Não aguentava ver minha cidade, além de abandonada pelo atual prefeito, totalmente poluída com cartazes, santinhos e pichações.  Nos canteiros centrais, nos outdoors, na rádio, na televisão. Candidatos sem qualquer proposta congruente para esta São Salvador da Bahia.  Propagandas ridículas que subestimam a inteligência (e a memória) dos eleitores, com uso de pessoas dançando, axés, reggaes e pagodes para dizer que vão resolver, principalmente, o problema do trânsito de Salvador.  Isso sem falar dos milhares de candidatos a vereadores (para apenas 43 cadeiras) que fazem da campanha desta cidade um verdadeiro circo, com baixarias e slogans de campanha tão idiotas que chegam a ofender. 

Vejo que o soteropolitano é o melhor que essa cidade tem.  E este, infelizmente, perdeu o amor próprio, a sensação de pertença com relação à sua cidade, a sua auto-estima.  Estamos cabisbaixos, desesperançosos,  descrentes em um futuro melhor.  Neste sentido, o futuro, que nos movia para frente há um quarto de século, quando eu era criança e adorava 'votar', atualmente não nos trás qualquer ânimo.  É a completa certeza de que nada vai mudar, as coisas não vão melhorar.  E, por este motivo, só nos resta viver o dia a dia, acordando cedo, enfrentando o trânsito infernal de Salvador ou, para os menos favorecidos, agradecer quando consegue entrar no ônibus, ainda que pendurado para o lado de fora.

Nos contentamos, pois, em escolher um candidato 'menos pior'.  Não conheço absolutamente ninguém que tenha votado feliz, convicto no que fez, tendo certeza da qualidade do seu candidato.  E, pelo menos para, se contentar com o menos pior é muito pouco!!

Aqui estou eu, pós eleições, olhando para essa sujeirada produzida por nossos representantes com profunda tristeza.  Gentém! Foram 88 toneladas de lixo nas já tão sujas ruas de Salvador!

 Me sinto, de fato, ressaqueada.  E, ainda por cima, com um enorme problema: escolher alguém para votar no segundo turno.  Gostaria mesmo de, nesta época do ano, já estar no Canadá para não ter que lidar com este problema.  Porque votar nulo sempre foi contra os meus princípios...



quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Dois meses de envio de exames médicos: Cadê a Maura??

Gentém,

Esse post é apenas mais um triste aniversário comemorado nesse longo processo que é a espera pelo tão sonhado visto canadense.  Fazem dois meses que enviamos os exames médicos para Ottawa (e documentação complementar para o Consulado de São Paulo). Sei que tive muita sorte na primeira fase do processo, pois entre o envio do calhamaço que é a documentação solicitada até a resposta positiva do governo canadense esperamos apenas 45 dias.  E eu, tolinha, achava que o resto seria tranquilo e rápido,tendo até mesmo feito planos de estar em março de 2012 (sim, me crucifiquem.  Achei mesmo isso) na tão sonhada terrinha.


A partir de então foram looongoooos meses de espera.  Consigo medir isso olhando para o meu filho caçula.  Partimos para a árdua tarefa de coletar documentos sobre nossa vida desde os 18 anos de idade em março do ano passado, com o pequeno contando com apenas 10 meses de idade.  E hoje, falando, correndo, frequentando escola, vejo que 22 meses é uma vida, né? Quanto mudamos, quanto aprendemos nesse tempo?? No meu caso, com exceção da mudança de casa, mudei nada.  Vivo, constantemente, esperando a semana passar, com a chegada da tão sonhada sexta-feira (thanks God it's friday!!!). E, no sábado, agradecendo que mais uma semana se foi, torcendo para que chegue a segunda!! Êita espera difícil! Dá para ficar irritada, entediada, ansiosa.  Quem não pirou nesse processo é porque tem uma saúde mental de ferro, viu? Colegas imigrantes, agradeçam.  Vocês passam longe de antidepressivos e ansiolíticos.  Se, no auge do inverno canadense descambarem pra comer chocolates e alimentos gordurosos, estão justificados e desculpados.  Antes isso do que engrossar a fila daqueles que tem seus afetos medicados e entram na triste estatística dos acometidos por qualquer tipo de transtorno mental.

Enfim, é isso.  Mesmo que estejamos planejando fazer o landing em janeiro (não me internem não, tá? Comprovadamente não sou louca... apenas ansiosa), precisamos ver passagem, casa, visto americano.  E, além do mais, o medo de ter dado alguma coisa errada com os exames médicos (e termos algum pedido de complementação) é grande.  Vimos acontecer com gente querida da blogosfera e, definitivamente, não é uma experiência pela qual queremos passar!!

Será que é muito ligar para a Maura pelo menos três vezes por dia, todos os dias? Será que errei em ter deixado recado na secretária eletrônica, na esperança de ter minha ligação retornada? Alguém, nesse meio tempo, conseguiu falar com ela?? Corrro algum risco de meu processo ter caído em baixo da mesa, um cachorro ter feito xixi nele e o funcionário de serviços gerais tê-lo jogado no lixo?? É muito devaneio ou faz algum sentido??

Alguém aí, please, me dá uma boa notícia.  Me consolem, meu povo!!

PS: Hoje, em pleno outono, os termômetros marcam -6 C em Calgary.  Alguém me belisca??


quinta-feira, 27 de setembro de 2012

O CUSTO DE VIDA NO BRASIL: DÁ PARA NÃO FICAR REVOLTADO?

Que o Brasil é um país extremamente caro para se viver (e para visitar) já não é novidade para ninguém.  Na sala do meu trabalho, nas ruas por onde ando, no elevador do meu prédio, nas comunidades virtuais e no seio familiar só vejo pessoas se revoltando, comparando preços, mencionando valor da conta do restaurante, em tom de indignação.  E, nós brasileiros, guerreiros e batalhadores, muitas vezes nos pegamos pensando na mágica mensal de fazer o dinheiro esticar para completarmos os trinta dias.  Ou, ainda (como no meu caso) tentando entender como o fulano ou o cigrano consegue viver com um salário de X, já que nossa família, mesmo com uma renda relativamente boa e com os gastos extremamente controlados e na ponta do lápis, contamos diariamente com sobressaltos e imprevistos no orçamento.  Enfim.  Não tenho resposta para dar sobre a vida alheia, mas sei que vivo revoltada com os preços praticados por aqui.  Farmácia, educação, alimentação, combustível, impostos, contas de água, luz, telefone.  Pagamos a terceira maior taxa de juros do mundo (acorda, gente! Não há motivo para comemorar a queda da SELIC. Ainda é alta pacas!!).  Pagamos o 4o. Big Mac mais caro do mundo e, pasmem, o carro no Brasil é o mais caro entre os mais de 200 países deste mundão todo!!


E você ainda acredita que o Brasil é a bola da vez???Não tem alguma coisa M-U-I-T-O errada nisso tudo??? Acho, sim, que nós, brasileiros, somos raçudos.  Mesmo diante de tamanha lamúria e sofrimento ainda encontramos espaço para viver: crescer, sorrir, acreditar, trabalhar, sonhar com um futuro melhor.  Saímos da famosa classificação de país subdesenvolvido e viramos emergentes!!! E, assim como os emergentes sociais, queremos consumir, adquirindo tudo aquilo que antes não nos estava acessível.  Mas, atenção neste ponto, muita calma nessa hora.  Vale a pena dar uma refletida nesse ponto aqui antes de sair por aí pagando taxas exorbitantes aos bancos apenas para se sentir com 'um lugar ao sol'.  Até porque consumo consumo consciente é o que há, não? Então, antes de trocar de carro, comprar tablets, celulares, notebooks e outros, se informar do preço que está sendo praticado no Brasil-sil-sil é fundamental.  Não que eu queira nutrir a revolta ou propagá-la, mas já chega de ser feito de idiota, né, meus compatriotas??

Vejamos isso aqui:

A explicação dos fabricantes para vender no Brasil o carro mais caro do mundo é o chamado Custo Brasil, isto é, a alta carga tributária somada ao custo do capital, que onera a produção. Mas, na verdade, o grande vilão dos preços é, sim, o Lucro Brasil. Em nenhum país do mundo onde a indústria automobilística tem um peso importante no PIB, o carro custa tão caro para o consumidor. Com o mesmo valor que o brasileiro compra um Uno, o europeu pode ter na sua garagem um Jetta, ou um Civic ou um Golf (http://omundoemmovimento.blog.uol.com.br)

-->Se o brasileiro pudesse trazer dos EUA um Corolla zero na mala, ele desembolsaria R$ 29 mil. Mas se for comprar no País, o veículo sai por mais de R$ 60 mil. E essas diferenças não se restringem somente aos EUA. 

Uma outra questão a ser levada em conta é a tributação dos bens de consumo no Brasil.  Enquanto no resto do mundo é regra ter um único imposto para o consumo, aqui são pelo menos seis.  Em Alberta, como já mencionei em outro post, o IVA, equivalente ao nosso ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) é de 0%!!! Isso mesmo. Por ser uma província superavitária, não faz qualquer sentido onerar ainda mais o contribuinte com a cobrança de mais tributos, uma vez que o governo não necessita deste recolhimento para engordar o seu orçamento.  E, se eventualmente no balanço fiscal anual houve excedente, o valor pago a mais pelos cidadãos é devolvido proporcionalmente ao bolso do cidadão.  Lindo, não?

No Brasil, ao contrário, a cobrança de impostos em cascata. O ICMS, cobrado pelos estados da federação, por exemplo, incide sobre o Cofins, o PIS e o IPI, que é um imposto federal. Ou seja: você paga imposto sobre imposto e tudo fica mais caro. Por esse motivo, quase metade do valor de um carro , no Brasil, cerca de 40%, fica para o governo na forma de tributos. Somente a título de comparação, nos EUA e na China é 20%, e na vizinha Argentina, 24%.  Ou seja: precisamos, mesmo, melhorar muito para termos orgulho deste tão falado país do futuro, meu povo!!

Por fim, e para não deixar este post muito grande:
-->levando em conta que renda mensal média do brasileiro (R$ 1,5 mil) é bem menor que a de regiões mais ricas (R$ 6 mil nos EUA, por exemplo), tudo é mesmo muito mais caro por aqui. Ou seja, enquanto um brasileiro que ganha o salário médio no país precisa trabalhar um pouco mais de um mês para comprar um iPad, um americano consegue comprar o tablet da Apple em menos de três dias.

Mas, last but not least, não é por isso (por causa do custo do IPAD), que estou migrando, não, meu povo.  É porque simplesmente não aguento mais trabalhar até o mês de maio todos os anos apenas para pagar impostos!! E trabalhar os demais meses que faltam para pagar a escola, o curso de inglês, o plano de saúde e os remédios da família.  E, nos fins de semana não sobrar dinheiro suficiente para a diversão familiar (sim, porque também pagamos tubos de dinheiro para dar uma arejadinha na cabeça) ou, quando nos sobra, simplesmente ficarmos com a mobilidade restrita por conta da violência urbana, né?  

Como meu filho disse à avó outro dia que o Canadá é o melhor país do mundo e que lá não tem violência, "é pra lá que eu vou". Não me iludo achando que lá é um mar de rosas. Mas, ser  respeitado na qualidade de cidadão, ver o dinheiro pago em impostos revertido na qualidade de vida da família e ter educação e saúde de qualidade e de graça simplesmente não tem preço!!! (e isso não é propaganda de cartão de crédito, haha).